Os samurais deixaram para a posteridade um rico e diverso legado cultural, do qual o ocidente conhece apenas uma parte, na forma das artes marciais tradicionais. Mas a vida dos samurais ia muito além dos treinamentos táticos – sua estratégia também tinha de lidar com as sutilezas da corte, arena onde lutavam munidos das letras e das belas artes. Resgatando o espírito dessa cultura milenar, o Aizu Musô Ryu promoveu, entre 15 e 16 de dezembro, o 2º Seminário de Kenbu e Shibu, com os mestres convidados Marcelo Haafeld e Adriano Pereira, do Shinto Ryu Shinken Bujutsu Tsukimoto-Ha.
As duas artes estudadas durante o seminário são uma união entre a dança, o canto e a literatura samurai ao coração e o espírito do guerreiro – a dança com o leque, no caso do Shibu, e o caminho da espada, no Kenbu. Segundo o representante oficial do Shinto Ryu Tsukimoto-Ha e mestre de Kenbu e Shibu, Marcelo Haafeld, “o Kenbu e o Shibu são artes marciais ‘disfarçadas’ de dança, onde a cultura dos samurais foi preservada – seus pensamentos, virtudes, os poemas, a nobreza do samurai”.
“Através desses movimentos de espada, do leque e do seu próprio corpo”, conta mestre Haafeld, “você vai contar essas histórias de grandes batalhas e feitos, de grandes personagens e lugares incríveis”. No Kenbu e no Shibu, os artistas apresentam uma coreografia de movimentos com o leque, a espada e expressões cênicas, a fim de representar, em cada peça, diversas batalhas históricas do Japão. Isso tudo é acompanhado por música e um poema narrativo cantado, o shigin, que conta, oralmente, a história dessas mesmas batalhas.
Segundo o Sensei, o Kenbu e o Shibu trazem ensinamentos profundos, que vão além do simples ato de dançar e cantar. “[O Kenbu] é uma arte que traz essa riqueza histórica muito grande. Ao mesmo tempo que ela te ensina a ser comedido, a controlar o seu gestual, ela te leva a repensar cada passo que você dá”, aponta Haafeld. Outro elemento importante da marcialidade nestas artes, explica o mestre, é o treinamento levado à exaustão, até os movimentos se tornarem naturais nos praticantes.
O estudo do Kenbu e do Shibu é um passo importante para a compreensão do caminho das artes tradicionais samurais e faz parte da grade de ensinamentos do Aizu Muso Ryu. Haafeld ainda defende que “quando o samurai terminou como casta governante, foi no Kenbu e no Shibu que a arte do samurai, com toda a sua história e toda a sua essência, foi depositada e guardada”.
Byakotai
Os cerca de 30 participantes do 2º Seminário de Kenbu e Shibu tiveram a oportunidade de aprender a peça A Byakkotai, que encena a famosa história da Tropa dos Tigres Brancos, do domínio de Aizu.
Composta por jovens entre 9 e 17 anos, a tropa Byakkotai foi cercada pelas forças imperiais, após uma longa e árdua jornada, antes de chegar ao seu destino, o Tsuruga-Jo, importante castelo de Aizu. Uma parte dos jovens guerreiros conseguiu se desvencilhar do inimigo, mas, ao avistar fumaça vinda da direção do castelo, interpretaram que a estrutura havia sido tomada e, não suportando a dor de perder os entes queridos, se sacrificaram.
No entanto, a história conta que a fumaça era, na verdade, dos canhões do próprio castelo, que alvejavam as forças imperais. Tsuruga-jo teria sido tomado apenas dias depois da chegada dos Tigres Brancos na região. O sacrifício dos Byakkotai é um evento histórico fundamental para a cultura japonesa e é celebrado até os dias de hoje.
O Aizu Musô Ryu já realizou apresentações de Kenbu em diversas celebrações da comunidade japonesa local, como no Bon Odori e no Festival do Japão de Brasília e de Anápolis, assim como no Festival Anual promovido pelo próprio estilo.
The samurai have left a rich and diverse cultural legacy, of which the West knows only a small part in the form of traditional martial arts. However, the life of the samurai went beyond tactical training – their strategy also had to deal with the subtleties of the court, an arena where they fought armed with words and many forms of art. Recalling the spirit of this millenarian culture, Aizu Muso Ryu promoted, on December 15th and 16th, the 2nd Kenbu and Shibu Seminar, with the invited masters Marcelo Haafeld and Adriano Pereira, from the Shinto Ryu Shinken Bujustu Tsukimoto-Ha.
The two arts studied during the seminar are a union of dance, singing and samurai literature with the heart and warrior spirit – a dance with a fan, for the Shibu, and the way of the sword for Kenbu. According to the official representative of Shinto Ryu Tsukimoto-Ha and master of Kenbu and Shibu, Marcelo Haafeld, “Kenbu and Shibu are martial arts ‘disguised’ as dances, where the samurai’s culture was preserved – their thoughts, virtues, poems, and the nobility of the samurai”.
“Through the movements of the sword, fan, and their own body”, tells master Haafeld, “the performers tell these stories of grand battles and accomplishments, of great characters and incredible places”. In Kenbu and Shibu, the artists perform a choreography with the fan, the sword, and scenic expressions to represent, in each play, various historic battles in Japan. All of this is accompanied by music and a sung narrative poem, the shigin, which tells, orally, the stories of these battles.
According to the Sensei, Kenbu and Shibu bring up profound lessons, which go beyond the simple act of singing and dancing. “[Kenbu] is an art that carries immense historical value. At the same times that it teaches you to be restrained, to control your gestures, it makes you rethink each step you take”, Haafeld points out. Another important martial element in these arts, explains the master, is training until exhaustion, until the movements become natural for the practitioner.
The study of Kenbu and Shibu is an important step for the comprehension of the way of the traditional samurai arts, and is part of the teachings in the Aizu Muso Ryu curriculum. Haafeld also states that “when the samurai was extinguished as a governing caste, it was in Kenbu and Shibu that the art of samurai, with all its history and essence, was deposited and protected”.
Byakkotai
Approximately 30 participants in the 2nd Kenbu and Shibu Seminar had the opportunity of learning the play A Byakkotai, which reenacts the famous story of the White Tiger Troop, of the Aizu domain.
Composed of boys between 9 and 17 years old, the Byakkotai troop was surrounded by imperial forces, after a long and arduous journey, before reaching their destination, the Tsuruga-Jo, an important Aizu castle. Part of the young warriors managed to escape the enemy, but, upon seeing smoke coming from the direction of the castle, they interpreted that the castle had been taken, and not bearing the pain of losing loved ones, sacrificed themselves.
However, history tells that the smoke was, actually, from the castle’s own cannons, which was targeting the imperial forces. Tsuruga-jo would be taken just days after the arrival of the White Tigers in the region. The Byakkotai’s sacrifice is a fundamental historical event for Japanese culture, and is celebrated to this day.
Aizu Muso Ryu has presented Kenbu performances in various local Japanese community celebrations, such as the Bon Odori and the Japan Festival in Brasília and Anápolis, as well as at the Annual Festival promoted by the style.