A história do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha no Brasil.
A história do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha no Brasil se inicia com a imigração de três famílias oriundas do norte do Japão, notadamente da antiga região de Aizu. Resultantes de uma diáspora iniciada na aurora da “Era Meiji” e da “Rebelião de Satsuma” e culminando no processo de (i)(e)migração tutelada promovida entre Brasil e Japão até a primeira metade do século XX, as respectivas famílias fixaram moradia no interior paulista. Era um momento de recomeço...
Os Misawa, Sani e Yamada - patronos do Aizu Muso Ryu – aportaram em solo brasileiro em três levas. Em especial sobre os Misawa - responsáveis pela difusão da arte fora dos ciclos familiares - os dados do “Museu Nacional da Imigração Japonesa” registram sua chegada a bordo do Ryojun-Maru (1910) e Wakasu-Maru (1914). A última leva data do ano de 1955 – período de maior pacificação das relações diplomáticas entre Brasil e Japão.
Aportando da província de Nagano, e chegando a bordo do navio Brasil-Maru, o senhor Roku Misawa (conhecido em nosso meio pelo seu Budoka Namae, Noriyoshi) desembarca em terras brasileiras. Ao chegar no porto de Santos e ser encaminhado ao departamento de registros, um fato inusitado ocorre: o erro de grafia no nome transliterado. No documento expedido constava um “y” no registro do nome Misawa. Como a época o senhor Noriyoshi não dominava a língua portuguesa, nem muito menos o alfabeto românico, a questão nunca fora problematizada até poucos anos atrás, quando seu nome veio a público através do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha
Em razão dos atribulados anos do Estado Novo e dos conflitos entre “Kachigumi x Makegumi”, as famílias Misawa, Yamada e Sani procuraram se ocupar estritamente do trabalho no campo. As artes que traziam consigo eram mantidas apenas entre os próprios familiares, mantendo, assim, vivo o patrimônio imaterial ao qual se identificavam e haviam preservado por centenas de anos. Dessa forma, nos períodos de intervalo no trabalho no campo, procuravam praticar/vivenciar entre si o conjunto de técnicas de combate corporal (Taihojutsu) e armado (Kobujutsu), além de um escopo de costumes sintetizados na forma de um modus vivendi próprio da região [montanhesca do] norte do Japão.
A partir dos anos de 1960 e o arrefecimento dos conflitos intracoloniais e da própria mudança de perspectiva da opinião pública brasileira frente ao imigrante japonês, os Misawa, em especial, aos poucos foram se abrindo para a comunidade geral no tocante a transmissão de suas artes. E isso incluía uma pauta controversa no meio dos colonos, sobretudo os que preveniam de uma perspectiva Koryu: ensinar a brasileiros um conjunto de saberes ancestrais de toda ordem.
Naturalmente, houve resistência de colonos. Essas artes, multiplicadas em correntes e tradições variadas no seio dos imigrantes nipônicos haviam servido de instrumento para a resistência operada contra milícias ultranacionalistas, tais como a Shindo-Renmei no aludido conflito “Kachigumi x Makegumi”. Havia, portanto, o receio de se estarem formando novas milícias no interior paulista – assunto àquela altura que já reclamava o esquecimento (porém, o sempre cuidado e alerta) por parte dos colonos. No entanto, a principal questão que se perfazia era exatamente o ensino das mesmas artes para não-japoneses. Isso, seguramente, não era ponto pacífico entre os colonos, que ora viam os brasileiros como inábeis ou, de modo menos xenofóbico (porém não menos radical): a de que um Gaijin poderia perverter o conjunto “sagrado” de ensinamentos ancestralmente preservados e transmitidos. Em resumo, havia um misto de receio com novos conflitos ou de deturpação leviana por parte de não-nipônicos.
Com o passar dos anos, os conflitos entre Japoneses já haviam cessado, restando apenas poucas vendettas (ou Kataki-uchi) entre famílias. A própria relação entre a opinião pública brasileira e o colono japonês (cada vez mais “assimilado” e citadino) já havia em muito se harmonizado. Outro fator que merece atenção é a diáspora operada por colonos, que agora se transpunham para o sul e centro-oeste do país em busca de novos refúgios ou mercados. Nessa época, já na transição das décadas de 1950-60, as famílias Misawa e Sani emigram para além do eixo paulista. Ambas, oriundas historicamente da antiga Aizu, haviam contraído matrimônio entre alguns dos seus. Ambas as famílias haviam sido pioneiras, ainda em São Paulo, na tentativa de ensinarem suas artes a descendentes e amigos da colônia. A mudança de um desses casais para Londrina-PR, reforçou ainda mais esse intento – fora do clima ainda tenso das relações sociais entre nativos e imigrantes japonesas no Estado Paulista – de se ensinar o Aizu Muso Ryu.
É nesse momento, em meados da década de 1970, que a família Martins tem contato com os Misawa, num evento regional de artes marciais. Notadamente, o jovem goiano Lázaro Martins (na época praticante de Karatê Shorin-Ryu) com o senhor Noriyoshi Misawa. Dessa interação que se converteu numa amizade, mestre Lázaro e seu filho (Kenjiro [à época, criança]) iniciaram seus treinamentos no Dojo doméstico dos Misawa, em Londrina. Anos depois e de mudança (volta) para Goiânia, Lázaro Martins (agora Masato Sensei) confia à família Misawa os cuidados na educação de Kenjiro [já adolescente], até sua idade adulta.
Décadas após o início de seu treinamento, Kenjiro [agora graduado no estilo de preservação familiar] também regressa a Goiás em meados dos anos 1990. Conciliando com sua carreira profissional militar, inicia por motivação própria o ensino das artes aprendidas através dos Misawa para seus familiares próximos – como havia sido recomendado por seu mestre, no contexto de sua última graduação. O ensino passou a ser ofertado ao seu afilhado, Clériston Gomes, conhecido hoje em nosso meio como Goeihashi Sensei. Durante os anos primeiros, alguns outros familiares e amigos próximos se aproximaram para o aprendizado, que era realizado em ambiente doméstico ou em espaços alugados de Dojo e academias da capital.
Os anos 2000 marcaram, entretanto, um momento singular para a história do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha. Kenjiro Misawa faz a delicada escolha (e sua condição de Sensei lhe outorgava tal direito): fundar uma escola oficial para o ensino do estilo ao grande público. Algo distinto do passado, pois o objetivo era que a arte pudesse ser administrada em uma forma pública e adaptada à realidade dos tempos modernos. Contudo, tal fato foi visto com um inicial receio pelos membros da família Misawa (dentre outras). E isso não se tratava da “questão Gaijin”: preconceito este já superado pelos próprios Misawa tempos antes. O que estava em sensível evidência era a possibilidade de transmissão de um legado sine qua non ao que fora constituído ancestralmente. Eis o primeiro entrave: o que e como levar uma arte secular a um público distinto do “modo de vida japonês” (yamatodamashi)? Seria possível transmitir um legado a partir de alterações didático-pedagógicas sem que isso ferisse a natureza e essência técnica e filosófica? Esse era o desafio autoimposto por Kenjiro Misawa. Como afirmado, sua graduação e posição frente aos Misawa lhe davam esse direito de levar adiante ao estilo. A forma como isso se deu, tratou-se de um longo processo de gestação, diálogo e estratégias de divulgação e sistematização. Tudo isso, com seus ônus e bônus, como a nossa micro-história registra.
Durante esse período inicial de adaptação/experimentação didático-pedagógica, três alunos foram de extrema importância para os primeiros passos da escola. Não sem razão, são intitulados afetivamente de “pilares” do Honbu Gakko. Luciana Finoto (Hikari-Sama), Pedro H. Finoto (Yshino) e Saulo Inácio (Tetsuno), somados a Clériston Gomes (Goeihashi Sensei) foram fundamentais dado a demonstração de responsabilidade, lealdade para com a arte, formando assim a primeira turma de neófitos fora do “sistema mezzo-familiar”dos Misawa.
Assim, de 2000 até 2005, uma série de eventos ocorrem para consolidar a primavera dos estudos de Aizu Ryu no Estado de Goiás. Na companhia de Masato Sensei (pai biológico de Kenjiro Sensei), um primeiro exame é realizado. Os “pilares” saltam da condição de Shoshinsha para a de Seito. Em novembro deste mesmo ano, inicia-se a construção da sede central visando atender um número maior de novos neófitos, primordialmente indicados pelos “pilares” entre seus grupos de amigos e familiares.
O fim do ano de 2004 marca uma fundamental importância, sobretudo para a trajetória de Kenjiro Sensei. Diretamente de seus mestres, Shinaiako Misawa, Hidetoshi Sani, e de Noriyoshi Misawa o grau de Okuden - uma das mais altas condecorações dentro de um Koryu.
A partir do ano de 2006 o Aizu Honbu Gakko – agora escola sede de Aizu Muso Ryu – Misawa Ha – passou a receber visitas cada vez maiores de pessoas interessadas na arte. Em certa medida, a exposição virtual fez com que houvessem a procura pela escola, seja por mera curiosidade ou “averiguação”. Desta época resultaram dois contatos singulares e que ajudaram a projetar o estilo como nunca antes: o primeiro, da comissão organizadora das festividades do centenário da imigração japonesa no Brasil; o segundo, de uma organização internacional sediada no Japão (a All Budo Japan Federation).
O Aizu Muso Ryu – Misawa Ha é hoje reconhecido e filiado à Zen Nihon Sogo Budo Renmei (All Japan Budo Federation) - instituição internacional da qual Kenjiro Sensei figura, hoje, como um dos representantes oficiais para a América Latina. Além do reconhecimento na condição de Renshi 6º Dan, torna-se representante oficial de Toyama Ryu – Morinaga Ha no Brasil. A Soburen, sigla pela qual é conhecida, está sediada na Nippon Seibukan Dojo – centro de estudos de diferentes tradições japonesas, criado em 1952 por Susuki Masafumi Kancho. Hoje, a instituição fundada pelo próprio Masafumi Kancho, no ano de 1969, trata-se de uma federação que se ocupa da preservação de diversos troncos e ramificações de escolas de Nihon Koryu Bujutsu e de Nihon Gendai Budo, estilos tradicionais restauração Meiji e estilos modernos, pós-modernizações, respectivamente. Além da função de representante da organização, Kenjiro Sensei é responsável pela manutenção do estilo Toyama Ryu no Brasil.
Neste ano de 2018, o ensino do Aizu Muso Ryu Misawa-Ha completa 62 de chegada ao Brasil, e 20 anos de existência em Goiânia-GO, enquanto método de ensino de uma tradição ancestral. Ainda que adaptada didático-pedagogicamente aos tempos atuais, procura preservar o legado dos antigos samurai da região de Aizu, mantendo a fidelidade técnica ao que o confere a caracterização de ser um Koryu. Kenjiro Sensei recebe de braços abertos todos interessados pela beleza e integridade da cultura samurai. Através da transmissão e vivência diária, o mestre mantém viva a tradição destes guerreiros, trazendo sua humildade, honra e lealdade até o nosso tempo.
Prof. Dr. Diego. A Moraes C. (古守)
Pós-Doutorando e Doutor em História da imigração japonesa no Brasil (PPGH - UFG). Autor da Tese de Doutorado (PhD): “O Martírio no Sol Poente: das agruras (e)(i)migratórias à formação de milícias ultranacionalistas no contexto do pós-guerra no Brasil – o caso Shindo-Renmei (1868 – 1956)”.
Os Misawa, Sani e Yamada - patronos do Aizu Muso Ryu – aportaram em solo brasileiro em três levas. Em especial sobre os Misawa - responsáveis pela difusão da arte fora dos ciclos familiares - os dados do “Museu Nacional da Imigração Japonesa” registram sua chegada a bordo do Ryojun-Maru (1910) e Wakasu-Maru (1914). A última leva data do ano de 1955 – período de maior pacificação das relações diplomáticas entre Brasil e Japão.
Aportando da província de Nagano, e chegando a bordo do navio Brasil-Maru, o senhor Roku Misawa (conhecido em nosso meio pelo seu Budoka Namae, Noriyoshi) desembarca em terras brasileiras. Ao chegar no porto de Santos e ser encaminhado ao departamento de registros, um fato inusitado ocorre: o erro de grafia no nome transliterado. No documento expedido constava um “y” no registro do nome Misawa. Como a época o senhor Noriyoshi não dominava a língua portuguesa, nem muito menos o alfabeto românico, a questão nunca fora problematizada até poucos anos atrás, quando seu nome veio a público através do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha
Em razão dos atribulados anos do Estado Novo e dos conflitos entre “Kachigumi x Makegumi”, as famílias Misawa, Yamada e Sani procuraram se ocupar estritamente do trabalho no campo. As artes que traziam consigo eram mantidas apenas entre os próprios familiares, mantendo, assim, vivo o patrimônio imaterial ao qual se identificavam e haviam preservado por centenas de anos. Dessa forma, nos períodos de intervalo no trabalho no campo, procuravam praticar/vivenciar entre si o conjunto de técnicas de combate corporal (Taihojutsu) e armado (Kobujutsu), além de um escopo de costumes sintetizados na forma de um modus vivendi próprio da região [montanhesca do] norte do Japão.
O Aizu Muso Ryu – Misawa Ha ensinado fora dos círculos familiares
A partir dos anos de 1960 e o arrefecimento dos conflitos intracoloniais e da própria mudança de perspectiva da opinião pública brasileira frente ao imigrante japonês, os Misawa, em especial, aos poucos foram se abrindo para a comunidade geral no tocante a transmissão de suas artes. E isso incluía uma pauta controversa no meio dos colonos, sobretudo os que preveniam de uma perspectiva Koryu: ensinar a brasileiros um conjunto de saberes ancestrais de toda ordem.
Naturalmente, houve resistência de colonos. Essas artes, multiplicadas em correntes e tradições variadas no seio dos imigrantes nipônicos haviam servido de instrumento para a resistência operada contra milícias ultranacionalistas, tais como a Shindo-Renmei no aludido conflito “Kachigumi x Makegumi”. Havia, portanto, o receio de se estarem formando novas milícias no interior paulista – assunto àquela altura que já reclamava o esquecimento (porém, o sempre cuidado e alerta) por parte dos colonos. No entanto, a principal questão que se perfazia era exatamente o ensino das mesmas artes para não-japoneses. Isso, seguramente, não era ponto pacífico entre os colonos, que ora viam os brasileiros como inábeis ou, de modo menos xenofóbico (porém não menos radical): a de que um Gaijin poderia perverter o conjunto “sagrado” de ensinamentos ancestralmente preservados e transmitidos. Em resumo, havia um misto de receio com novos conflitos ou de deturpação leviana por parte de não-nipônicos.
Com o passar dos anos, os conflitos entre Japoneses já haviam cessado, restando apenas poucas vendettas (ou Kataki-uchi) entre famílias. A própria relação entre a opinião pública brasileira e o colono japonês (cada vez mais “assimilado” e citadino) já havia em muito se harmonizado. Outro fator que merece atenção é a diáspora operada por colonos, que agora se transpunham para o sul e centro-oeste do país em busca de novos refúgios ou mercados. Nessa época, já na transição das décadas de 1950-60, as famílias Misawa e Sani emigram para além do eixo paulista. Ambas, oriundas historicamente da antiga Aizu, haviam contraído matrimônio entre alguns dos seus. Ambas as famílias haviam sido pioneiras, ainda em São Paulo, na tentativa de ensinarem suas artes a descendentes e amigos da colônia. A mudança de um desses casais para Londrina-PR, reforçou ainda mais esse intento – fora do clima ainda tenso das relações sociais entre nativos e imigrantes japonesas no Estado Paulista – de se ensinar o Aizu Muso Ryu.
É nesse momento, em meados da década de 1970, que a família Martins tem contato com os Misawa, num evento regional de artes marciais. Notadamente, o jovem goiano Lázaro Martins (na época praticante de Karatê Shorin-Ryu) com o senhor Noriyoshi Misawa. Dessa interação que se converteu numa amizade, mestre Lázaro e seu filho (Kenjiro [à época, criança]) iniciaram seus treinamentos no Dojo doméstico dos Misawa, em Londrina. Anos depois e de mudança (volta) para Goiânia, Lázaro Martins (agora Masato Sensei) confia à família Misawa os cuidados na educação de Kenjiro [já adolescente], até sua idade adulta.
A vinda do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha para terras goianas
Décadas após o início de seu treinamento, Kenjiro [agora graduado no estilo de preservação familiar] também regressa a Goiás em meados dos anos 1990. Conciliando com sua carreira profissional militar, inicia por motivação própria o ensino das artes aprendidas através dos Misawa para seus familiares próximos – como havia sido recomendado por seu mestre, no contexto de sua última graduação. O ensino passou a ser ofertado ao seu afilhado, Clériston Gomes, conhecido hoje em nosso meio como Goeihashi Sensei. Durante os anos primeiros, alguns outros familiares e amigos próximos se aproximaram para o aprendizado, que era realizado em ambiente doméstico ou em espaços alugados de Dojo e academias da capital.
Os anos 2000 marcaram, entretanto, um momento singular para a história do Aizu Muso Ryu – Misawa Ha. Kenjiro Misawa faz a delicada escolha (e sua condição de Sensei lhe outorgava tal direito): fundar uma escola oficial para o ensino do estilo ao grande público. Algo distinto do passado, pois o objetivo era que a arte pudesse ser administrada em uma forma pública e adaptada à realidade dos tempos modernos. Contudo, tal fato foi visto com um inicial receio pelos membros da família Misawa (dentre outras). E isso não se tratava da “questão Gaijin”: preconceito este já superado pelos próprios Misawa tempos antes. O que estava em sensível evidência era a possibilidade de transmissão de um legado sine qua non ao que fora constituído ancestralmente. Eis o primeiro entrave: o que e como levar uma arte secular a um público distinto do “modo de vida japonês” (yamatodamashi)? Seria possível transmitir um legado a partir de alterações didático-pedagógicas sem que isso ferisse a natureza e essência técnica e filosófica? Esse era o desafio autoimposto por Kenjiro Misawa. Como afirmado, sua graduação e posição frente aos Misawa lhe davam esse direito de levar adiante ao estilo. A forma como isso se deu, tratou-se de um longo processo de gestação, diálogo e estratégias de divulgação e sistematização. Tudo isso, com seus ônus e bônus, como a nossa micro-história registra.
Durante esse período inicial de adaptação/experimentação didático-pedagógica, três alunos foram de extrema importância para os primeiros passos da escola. Não sem razão, são intitulados afetivamente de “pilares” do Honbu Gakko. Luciana Finoto (Hikari-Sama), Pedro H. Finoto (Yshino) e Saulo Inácio (Tetsuno), somados a Clériston Gomes (Goeihashi Sensei) foram fundamentais dado a demonstração de responsabilidade, lealdade para com a arte, formando assim a primeira turma de neófitos fora do “sistema mezzo-familiar”dos Misawa.
Assim, de 2000 até 2005, uma série de eventos ocorrem para consolidar a primavera dos estudos de Aizu Ryu no Estado de Goiás. Na companhia de Masato Sensei (pai biológico de Kenjiro Sensei), um primeiro exame é realizado. Os “pilares” saltam da condição de Shoshinsha para a de Seito. Em novembro deste mesmo ano, inicia-se a construção da sede central visando atender um número maior de novos neófitos, primordialmente indicados pelos “pilares” entre seus grupos de amigos e familiares.
O fim do ano de 2004 marca uma fundamental importância, sobretudo para a trajetória de Kenjiro Sensei. Diretamente de seus mestres, Shinaiako Misawa, Hidetoshi Sani, e de Noriyoshi Misawa o grau de Okuden - uma das mais altas condecorações dentro de um Koryu.
A partir do ano de 2006 o Aizu Honbu Gakko – agora escola sede de Aizu Muso Ryu – Misawa Ha – passou a receber visitas cada vez maiores de pessoas interessadas na arte. Em certa medida, a exposição virtual fez com que houvessem a procura pela escola, seja por mera curiosidade ou “averiguação”. Desta época resultaram dois contatos singulares e que ajudaram a projetar o estilo como nunca antes: o primeiro, da comissão organizadora das festividades do centenário da imigração japonesa no Brasil; o segundo, de uma organização internacional sediada no Japão (a All Budo Japan Federation).
O Aizu Muso Ryu – Misawa Ha é hoje reconhecido e filiado à Zen Nihon Sogo Budo Renmei (All Japan Budo Federation) - instituição internacional da qual Kenjiro Sensei figura, hoje, como um dos representantes oficiais para a América Latina. Além do reconhecimento na condição de Renshi 6º Dan, torna-se representante oficial de Toyama Ryu – Morinaga Ha no Brasil. A Soburen, sigla pela qual é conhecida, está sediada na Nippon Seibukan Dojo – centro de estudos de diferentes tradições japonesas, criado em 1952 por Susuki Masafumi Kancho. Hoje, a instituição fundada pelo próprio Masafumi Kancho, no ano de 1969, trata-se de uma federação que se ocupa da preservação de diversos troncos e ramificações de escolas de Nihon Koryu Bujutsu e de Nihon Gendai Budo, estilos tradicionais restauração Meiji e estilos modernos, pós-modernizações, respectivamente. Além da função de representante da organização, Kenjiro Sensei é responsável pela manutenção do estilo Toyama Ryu no Brasil.
Neste ano de 2018, o ensino do Aizu Muso Ryu Misawa-Ha completa 62 de chegada ao Brasil, e 20 anos de existência em Goiânia-GO, enquanto método de ensino de uma tradição ancestral. Ainda que adaptada didático-pedagogicamente aos tempos atuais, procura preservar o legado dos antigos samurai da região de Aizu, mantendo a fidelidade técnica ao que o confere a caracterização de ser um Koryu. Kenjiro Sensei recebe de braços abertos todos interessados pela beleza e integridade da cultura samurai. Através da transmissão e vivência diária, o mestre mantém viva a tradição destes guerreiros, trazendo sua humildade, honra e lealdade até o nosso tempo.
Prof. Dr. Diego. A Moraes C. (古守)
Pós-Doutorando e Doutor em História da imigração japonesa no Brasil (PPGH - UFG). Autor da Tese de Doutorado (PhD): “O Martírio no Sol Poente: das agruras (e)(i)migratórias à formação de milícias ultranacionalistas no contexto do pós-guerra no Brasil – o caso Shindo-Renmei (1868 – 1956)”.